terça-feira, 19 de abril de 2016

Sobre a Kakistocracia (Jorge Luis García Venturini, 1975)

Em artigo anterior procuramos reivindicar a adoção correta do conceito de aristocracia, tão menosprezado em nossa época. Ali demos as razões históricas e conceituais para mostrar que a democracia - para ser autêntica e não mera palavra vazia ou simples mecanismo eleitoral, que dá o triunfo à metade mais um - não deve opor-se à aristocracia, mas unir-se à ela, completar e impregnar seu espírito. É dizer que, longe de abrir mão do governo dos melhores (aristocracia), deve-se desejar o governo dos melhores, sob risco de deixar de ser democracia.

Também, advertirmos que parecia existir uma tendência geral (em todas as ordens e não só na questão de governos) de buscar o conformismo aos piores. Não é raro que indivíduos moralmente frágeis, com antecedentes de corrupção e pouco ou nenhuma capacidade técnica chegam ao poder. Quando isso ocorre temos o que denomino Kakistocracia, que também é um sinônimo de Chantocracia, visto que a palavra grega kratia encontra correspondência no vocábulo portenho chanta
O chanta é um malandro, um mentiroso, alguém que consegue falar muito sem dizer nada de relevante. Segundo os dicionários também é alguém que faz coisas ruins. No lunfardismo portenho (lunfardismo vem de lunfardo - gíria argentina/uruguaia) também pode significar uma pessoa nada recomendável, porém não demasiadamente prejudicial (pode ser incapaz, inocente, inapta).

Kakistocracia vem de kakistos, que em grego é o superlativo de kakos. Por sua vez kakos significa "mau", "sórdido", "sujo", "vil", "perverso", "nocivo", etc. Logo, se kakos é perverso, o superlativo kakitos é o "pior entre os perversos". Daí que nos ocorreu que Kakistocracia é o governo dos piores. 

Nos parece que surgem claras distinções entre o "chanta" e o "kakisto". Há um aspecto moral a ser pensado, pois o chanta pode ser um inocente. Já o kakisto é intencionalmente perverso. Além disso ele não e apenas perverso, mas o pior.

O significado profundo e real de Kakistocracia só se capta em contraposição com a aristocracia. Se há um vocábulo para designar o governo dos piores, qual a razão para inexistir um vocábulo para o governo dos melhores? 

Quando um grupo ou um povo abre mão de ter os melhores, entra em um tobogã e passa dos medíocres aos piores. Não estamos aqui questionando formas de governo ou modos de eleger governantes. Isso são outros temas que abordaremos em outras oportunidades. Se trata de fundamentalmente de um espírito, de uma inspiração, de uma exigência profunda de consciência individual e coletiva. Se trata de tender de cima para baixa (mera gravitação) ou de baixo para cima - afã de perfeição. Se trata de exigir e exigir-se menos ou de exigir e exigir-se mais. Se trata, enfim, de ser rebanho ou de se sentir e atuar como pessoa humana. Porque a Kakistocracia não só é um atendado contra a ética - já por si só algo muito grave - mas também contra a estética, uma falta de bom gosto.


Traduzido por Alexsander Borges Ribeiro a partir do original em espanhol: VENTURINI, Jorge Luis García. Acerca de la "Kakistocracia". 29 mar. 1975 (La prensa). Republicado em 28 sep. 2007 por El Instituto Independiente.

2 comentários:

  1. Sinclair Lopes é um homem de fé, assim como muitos de nós, acredita em um pais melhor, conheça seu trabalho.

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  2. Boa noite!
    Gostaria de referências de onde encontrar esse livro: Acerca de la Kakistocracia de VENTURINI. Estou precisando dele para meu TCC. Obrigado.

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